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MEMÓRIA E SAUDADES BANIWA

A nossa cultura é a nossa força de amanhã, aos filhos de hoje e futuras gerações!

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Serra de Tunuí – Médio Içana. Foto: Braulina Aurora/Facebook

Por: Braulina Baniwa

Memorizar as coisas vividas no dia da morte são carregadas de emoções fortes e tristes, por isso elas marcam nossas vidas  fixando em nós e nos  levando a revivê-las com as saudades. Em nosso lamento profundo de perdas, nós nos perguntamos: por que tão cedo? E aos mesmo tempo pensamos nos sonhos  que foram possíveis até essa data.

Quem vos escreve estas memórias é uma indígena mulher, pesquisadora e antropóloga do tronco linguístico Aruak. O território tradicional do meu povo fica no rio Içana, mas estamos espalhados em todo o rio Negro, nos municípios de São Gabriel da Cachoeira, Santa Isabel do Rio Negro, Barcelos e Manaus. Uma parte do nosso povo está na Colômbia e Venezuela. Para falar de memória, precisamos relembrar o triste processo histórico de contato do povo Baniwa (conhecidos assim pelos não indígenas), porém nos autodenominamos Medzeniakonai[1].

Os Medzeniakonai (Baniwa) foram invadidos pelos não indígenas colonizadores no início do século 18, foram violentados, perseguidos e escravizados por espanhóis e portugueses. Uma boa parte dos indígenas morreram por epidemias no Brasil. As mais conhecidas que dizimaram muitos indígenas foram o sarampo e varíola, trazidas por nãos indígenas. Durante o processo do contato, os medzeniakonai (Baniwa) foram explorados por não indígenas, na ilusão de melhorar de vida através da troca de mercadorias pelo seu serviço braçal.

Acredita-se que os nossos avôs e as nossas avós enfrentaram as maiores violações de direitos humanos em defesa de nossos territórios milenares. A colonização mudou de cara com a chegada da religião na região do Rio Negro. A chegada de igrejas também foi de tamanha violência contra os direitos humanos, chamada na época de escola civilizatória e que hoje podemos compreender como a morte de conhecimentos ancestrais.

Passadas décadas de contato, nós nos organizamos, temos escolas, associações indígenas, acessamos espaços nunca ocupados por indígenas do nosso povo, somos o único povo do rio negro a chegar a ocupar lugares de destaque no governo, a nível nacional, estadual e municipal, como por exemplo, no MEC, Secretarias Estaduais e Prefeitura.

Alguns e muitos de nós decidiram ficar longe de sua família e comunidades para cumprirem suas funções de professor (a), agente de saúde, enfermeira (o), antropóloga (o), artista e escritor. Outros se ausentaram de suas famílias em prol da coletividade para coordenar as secretarias de destaque nos governos.

Memorizar essas vitórias é dizer o quanto conseguimos chegar a lugares nunca acessados pelos nossos avós ou nossos pais, temos lideranças de destaques que são pais e mães para muitos jovens que estão nas universidades espalhadas no Brasil.

Seguimos juntos em prol do nosso povo, estando em vários lugares. É sempre bom falar do nosso povo, seja para pessoas de outro povo, nas universidades, falar da pimenta – quem nunca ouviu falar da nossa pimenta, do ralo Baniwa, falar na língua Baniwa, antes de falar em português. Isso é muito rico, pois, nossos parentes perderam essa riqueza por conta do contato violento.

Mas também migramos, fazemos parte do povo que anda, somos livres de ir e vir, somos pessoas impacientes e aptas a organizar e coordenar qualquer frente que nos é dada para liderar, somos povo ágil e somos povo com inimigos do lado, pois somos povo amado e odiado ao mesmo tempo. Nossas tias, primas e avós tiveram e têm casamentos com diferentes povos e continuamos com essa prática nos dias de hoje, por isso estamos em quatro municípios do rio Negro e fora do Brasil.

A prática solidária com os próximos prevalece desde nosso surgimento até nos dias atuais. As comunidades do povo Medzeniakonai, espalhadas na margem do rio Içana e seus afluentes, continuam com as práticas coletivas de compartilhar, hábito cultural que herdamos de nossas avós.

Não importa se estamos no nosso território tradicional ou na margem do rio Negro, ou nas cidades, nós nos conhecemos, sabemos quem é quem, onde está e como está. Então esse sentimento de irmandade é sentido quando perdemos um ente querido, somos do tronco Aruak, nos dividimos em vários clãs, mantemos respeito de hierarquia entre nós, sabemos se são nossos irmãos, se são de alto, médio ou baixo Içana, não existe o melhor ou pior.

Se somos primos, somos primos, se é tia, é tia de todos, se é vô e vó é de todos, se é cunhado também é de todos, somos povos adaptáveis e alegres, rimos muito, tanto que o termo felicidade foi tema de pesquisa de Doutorado junto ao povo nas comunidades, nossos encontros, reuniões evangélicas são as mais alegres possíveis e compartilhamos o nosso alimento sagrado com os nossos visitantes, e partilhamos sempre.

Recebemos desde o nosso nascimento o sentimento de irmandade de família. Assim, choramos cada vida perdida, fazemos rede de apoio para superar as perdas, nossos anciões rezam e oram por cada família que ficam longe de suas casas. Esse amor fraternal e maternal que praticamos, mantém a espiritualidade do nosso povo e a crença de que existe um ser superior não acessível aos olhos humanos que nos protege em todos os espaços que estivermos.

Fomos o primeiro povo no rio Negro a perder um parente para essa nova doença (Covid-19). Sentimos e nos solidarizamos com a família, por ser uma pessoa que morreu cuidando dos outros, e denunciou a falta de equipamento para trabalhar com segurança. O trabalho desenvolvido por esse parente continuará na memória de seus filhos, amigos e parentes, vamos sempre lembrar da data que ele se foi, mas sem entender do por que tão cedo. Sabemos que ele voltará em outra vida, acreditamos que ele possa estar bem.

Mas dessa vez, aconteceu algo inédito, os familiares não puderam se despedir, é a primeira vez que temos que lidar com morte solitária, internação solitária, sem poder levar nosso famoso cigarro para que a alma encontre o seu lugar, os tios mais velhos e tias mais velhas não tiveram a chance de abraçar e chorar junto com os filhos e mãe dele. As notícias se espalharam em curto tempo,  diferente de mortes no século 18, recebíamos notícias meses depois por recado (notícia via oralidade, na época não dominávamos a escrita e tecnologias de não indígenas), era sempre através de parentes que estavam de passagens, viajando ou chegando de viagens.

Passamos um tempo acreditando que não chegaria no território tradicional dos Medzeniakonai, afinal a doença não havia chegado no porto de São Gabriel da Cachoeira. Ações conjuntas entre governo municipal e entidades indígenas se converteu em uma força tarefa para espalhar notícias sobre a doença nas comunidades indígenas, via rádio municipal, radiofonia e cartilhas nas línguas indígenas do rio Negro.

Somos povo resistentes, mas até que ponto? A nossa saúde mental precisa de atenção, choramos, não tem como não chorar por um amigo e por um parente, choramos quando estamos longe, choramos quando viajamos, choramos quando estamos sozinhos. É saudável chorar, são etapas necessárias para a formação.

Komaderoa é nossa liderança de referência, que ocupa o cargo de diretor (Isaías Fonte) na nossa instituição indígena que chamamos de FOIRN,  ele nos relata a proporção da chegada da doença nas comunidades, o medo, angústia de não poder fazer muita coisa pelo povo da comunidade. Passadas algumas semanas rapidamente se criou grupo de estratégia para ajudar o nosso povo e pensar sobre como levar a informação sobre a doença. O meio mais fácil que achamos foi o áudio, sim nosso povo Baniwa é hospitaleiro, tem muitos conhecidos no Brasil, professores, médicos, doutores e outros pesquisadores que já pisaram no nosso território Baniwa.

Entre choros por perdas de tios e tias, recebemos no grupo que foi criado a imagem que nos trouxe esperança, uma vovozinha Baniwa de 92 anos que se recuperou da doença e na porta do hospital disse: o remédio é não ficar triste, alegria afasta qualquer doença.

Entramos no modo alegria pois somos povo alegre e feliz, acreditamos na solidariedade e como as pessoas são boas, assim seguimos trabalhando, envolvendo cada pessoa que conhecemos para fazer chegar a doação para o nosso povo que necessita.

Mas no meio a isso, uma perda memorável, um pai de professores Baniwa do médio Içana, uns dos pais que incentivava e acreditava que a formação transforma a pessoa. A educação Baniwa e Koripako perde um dos seus líderes, o dia parecia não acabar, os filhos, a esposa e netos, foram deixados por ele, e nós primos e sobrinhos sentiremos saudades.

Rio Içana não será o mesmo depois desse caos de informação trocada, não será o mesmo, pois perdeu algumas de suas lideranças tão jovens para a doença, ficamos uma parte órfãos de tios e tias.

Mas o rio Içana e povo Medzeniakonai permanecerão firmes, dizendo ao mundo que sua medicina indígena, através de suas ervas e remédios silvestres, salvou grande parte do seu povo, seja os que estão dentro e fora do território.

Pregamos alegrias por onde passar, deixamos legados de sucesso onde chegamos e onde queremos chegar, somos assim um povo, que desde o contato fomos vistos como povo sujo, hoje nós respondemos que somos povos de conhecimentos que nunca outros saberão, isso é singular nos povos indígenas, o que é nossa ciência é nosso.

Perdemos 07 vidas, perdemos 07 bibliotecas vivas no rio Içana, mulher, mãe, homem, pai e vó, um pai escritor, um professor referência na comunidade deixa a Seduc e assim a Seduc não será a mesma, as ruas de São Gabriel, acostumadas a ver ele passar na sua moto, ficaram em silêncio nessa partida tão cedo.

Seguimos firmes, em nome dessas pessoas, dando e recebendo ensinamentos que os manterão presentes nas nossas vidas. Nossa homenagem as sete famílias que choraram por perdas por covid-19. O que fica na memória de cada membro da família são as risadas dadas, seja no caminho de roça, nos encontros, na hora do chibé, ou no famoso momento de quinhapira.

Finalizo, esta memória de saudades, dizendo que as Indígenas Mulheres  Medzeniakonai ( Baniwa) são as mais belas e incríveis detentoras de uma ciência ímpar e que elas, mulheres pimenteiras que juntas com nossos artesãos de cestarias se recuperam dessa doença, emanam energias positivas e boas, que logo possamos nos encontrar e compartilhar nomes de remédios da nossa medicina indígena que foram usadas em seus tratamentos, que ao plantar novas roças pimenteiras e iniciar a produção de cestas, estejamos bem e com boas notícias de que muitos se salvaram. Aos nossos parceiros e colaboradores de lugares distantes, que ao retornarem a suas atividades normais, possam relembrar desse episódio com um suspiro de que muitas vidas foram salvas com sua atividade de solidariedade, uma parte dos Baniwa dentro de seus corações onde estiverem.

Um aperto de mão em cada um que for ler isso, e viva a conhecimentos ancestrais que está na nossa essência, como MEDZENIAKONAI!

Aos nossos parceiros e colaboradores, gratidão pelo esforço de ajudar nosso povo.

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[1] Autodenominação do povo Baniwa na língua própria.

Colaboraram: Hipatairi (André Baniwa) Ray Baniwa e Komaderoa (Isaias Fontes)

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VALORIZAÇÃO DAS LÍNGUAS INDÍGENAS NO ALTO RIO NEGRO

Augusto Garcia Gonçalves

Mestre em linguística na UNB

A partir da visão das línguas indígenas, o Rio Negro é uma região mais plurilíngue do Continente Americano devido um sistema eco linguístico de 23 povos diferentes e de línguas indígenas segundo quatro troncos linguísticos que são Tupi, Aruak, Tukano Oriental e Maku ou Nadahup, além de duas línguas da família românica, o Português e o Espanhol. Um dos cursos de Licenciatura Indígena da Universidade Federal do Amazonas – UFAM adotou o princípio linguístico para organizar os pólos de ensino. Além disso, o alto rio Negro é único lugar do mundo cujas regras de matrimonio se baseiam na chamada exogamia linguística, isto é, na obrigatoriedade do casamento com mulher de outra língua. Esse tipo de regra matrimonial conduz o filho bilinguismo por natureza, isso que justifica, por exemplo, para que existissem falantes potenciais de várias línguas.

Todo isso é um direito, pois estão garantidas em diversas leis, desde a legislação brasileira (Constituição Federal, LDB, Resolução 03 do CNE, etc.) e internacional (Resolução 169 da OIT, Declaração Universal da Diversidade Cultural etc.) são os que reconhecem aos povos minorizados em geral e aos indígenas em particular o direito de uso das suas línguas própria nos processos educacionais em todos níveis escolares. É neste contexto que São Gabriel da cachoeira goza de uma legislação municipal própria sobre assunto, a Lei 145 de dezembro de 2002 co-oficializou as línguas Baniwa, Yegatu e Tukano, atribuindo-lhe estatuto de uso obrigatório no sistema educacional, na mídia e no entendimento publico aos cidadãos (95 % dos cidadãos de São Gabriel da Cachoeira são indígenas).

Os cidadãos indígenas do município falam em geral uma das três línguas cooficiais, independente disso, além da sua própria, falam também outras línguas indígenas e outras línguas nacionais.  É importante salientar que a própria Lei nº 145/2002 regulamentada pela Lei em 2010/2006, prevê o direito de outras etnias de disporem de educação básica nas suas línguas maternas ou do seu próprio povo.

Necessidade de fortalecimento das línguas indígenas

Mesmo com todos esses direitos às línguas nacionais de cada país são mais forte que as línguas indígenas, exemplo disso é que já morreram muitas línguas indígenas no Brasil e fora dela. Neste sentido é muito importante que se tenha consciência para que se nunca se perca as línguas originárias indígenas que carrega em si riquezas de conhecimentos diversos na vida e da natureza.

  1. Línguas Indígenas nas famílias.
  • Os pais devem continuar falando com seus filhos (as) suas línguas no dia a dia;
  • Os pais devem esclarecer aos filhos que a língua que ele fala tem o mesmo valor e importância que a língua Portuguesa e outras línguas nacionais;
  1. Línguas indígenas em ambiente Comunitários.
  • Todos os indígenas devem comunicar-se nas reuniões, assembleias, trabalhos comunitários, sempre em suas línguas paternas e maternas;
  • Os líderes comunitários devem sempre incentivar as práticas culturais e lingüísticos nas (danças, músicas, teatros) nas comunidades em parceria com a escola.
  1. Línguas Indígenas em Ambiente Escolar
  • Contratar professores das escolas falantes da mesma língua de acordo com sua localização;
  • A alfabetização (oral e escrita) deve ser sempre na língua paterna ou materna e somente depois na língua Portuguesa;
  • Garantir no Projeto Político Pedagógico Indígena – PPPI e na Matriz Curricular disciplina “Línguas Indígenas” no ensino fundamental e médio;
  • Nos Ensino Médio Indígena: Assunção do Içana, Taracuá, Pari-Cachoeira, Yawarete, Querari e outros devem adotar o método “ensino via pesquisa” para que os alunos possam estar preparados para serem pesquisadores de suas próprias línguas ao terminarem o ensino médio;
  • As produções de Material Didático devem ser em línguas indígenas tanto para ser usado na alfabetização, no ensino fundamental e médio;
  • Escola da área Urbana de ensino Médio: Colégio São Gabriel, Marchesi, Ir. Inês Penha, IFAM deveriam incluir no seu PPP e no componente curricular as Línguas Indígenas para ajudar os estudantes no conhecimento, na valorização e manutenção das línguas na área urbana.
  • Formação Linguística para os Professores indígenas em suas respectivas línguas para atuarem como Professores de suas Línguas.

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PESQUISAS DE NOVAS TECNOLOGIAS SOCIOAMBIENTAIS PARA BEM VIVER: EXPERIÊNCIAS NAS COMUNIDADES BANIWA DO MÉDIO RIO IÇANA E AYARI

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Inauguração de abastecimento de água na comunidade Santa Isabel do Rio Ayari por meio de tecnologia Carneiro Hidráulico – na terra indígena Alto Rio Negro

Juvêncio Cardoso (Dzoodzo)[1]

Adeilson Lopes – Ecólogo/ISA

O que vamos contar aqui é apenas parte das pesquisas e experiências que desenvolvemos na região do médio rio Içana e Ayari, dedicadas especificamente ao que chamamos de tecnologias socioambientais. Estas pesquisas visam prospectar, experimentar e/ou adaptar tecnologias que melhorem a qualidade de vida das pessoas nas comunidades. Nas terras indígenas do médio e alto rio negro habitam uma enorme população indígena. O Levantamento PGTA realizado por ISA/FOIRN/FUNAI em 2017 apontou mais de 5mil famílias de moradores, de maioria composta por crianças e jovens (70%), vivendo em cerca de 350 comunidades. Todas elas demandam, cada dia mais, tecnologias que sejam acessíveis economicamente, adaptadas às condições de pequenas comunidades imersas na extensa região coberta por florestas e que sejam apropriadas do ponto de vista ambiental e cultural para a população. As experiências aqui narradas são desenvolvidas por meio de iniciativas das comunidades, escolas e associações em parceria com a FOIRN e ISA.

Atualmente, duas linhas de pesquisa e experimentação vem sendo fortalecidas: 1) geração de energia elétrica; 2) abastecimento de água; e 3) construção em placa de taipa.

A geração de energia elétrica

A pesquisa de alternativas de geração de energia elétrica iniciou na escola Pamáali, desde 2002, quando foram instalados três tipos de fontes de geração para aumentar e melhorar sua matriz energética. Os modelos testados foram de motores movidos à combustível fósseis (gasolina e diesel), sistema fotovoltaico (placa solar e bateria) e sistema hidrocinético (micro-turbina movido pela água).

A experiência com motor movido à gasolina foi ótima, mas o custo de abastecimento e manutenção é caro. O motor que funciona com diesel foi adaptado, em 2009, ao sistema híbrido de biocombustível (ou seja, usando diesel e óleo de soja reciclado da cidade). Ele funcionou muito bem usando óleo de soja descartado de restaurantes. Porém, não conseguimos manter um sistema de coleta de óleo nas cidades de Manaus e São Gabriel para abastecer este motor. Assim, o sistema com óleo vegetal foi abandonado e o motor continuou funcionando com diesel.

A experiência com o sistema fotovoltaico foi mais efetiva e eficiente em termo de geração de energia, pois dependia basicamente do sol como fonte de alimentação. Mas, o difícil foi fazer a gestão adequada do sistema. No caso específico da escola, o consumo de energia era maior do que a gerada pelo painel e a falta de controle resultou em desgaste precoce das baterias, que duravam em média 1 ano.

Outras experiências particulares com sistema fotovoltaico apontam que o sistema é eficiente, quando se realiza uma boa gestão. Utilizando a energia dentro do limite gerado pelo painel. Um sistema composto de 2 painéis solares com duas baterias, por exemplo, utilizando um inversor de 500W, é suficiente para alimentar 4 lâmpadas de 18W no tempo de 4h/dia, uma TV pequena de 15” de 20W e um computador notebook. A vida útil das baterias nessa condição é de 3 anos.

No âmbito do Projeto Monitoramento Ambiental e Climático – PMAC, os coordenadores indígenas estão recebendo um kit de sistema fotovoltaico (um painel solar, duas baterias, 1 inversor e três lâmpadas de 12 V). O objetivo é apoiar as suas atividades de pesquisa para fornecer energia para iluminar seu local de trabalho, carregar tablet e computador notebook.

Ao final de 2011, com o apoio do Fundo de Micro-Projetos Mudanças Climáticas da CAFOD, pudemos dar início à instalação e aos testes de geradores hidrocinéticos na escola Pamáali. Foi uma experiência ímpar de eficiência, mas que durou por pouquíssimo tempo. Demorou pouco tempo devido ao local de instalação, pois a barragem de terra e o canal de alimentação do sistema foi tomado pela erosão, devido ao solo arenoso, obrigando a desativar o sistema. As microturbinas, 1 kVA e 0,5 kVA, foram remanejados para a comunidade de Nazaré, onde foram instaladas numa barragem de concreto já existente nesta comunidade. Funcionaram bem por alguns anos, gerando energia durante 24 horas com a força da água. Atualmente o sistema está desativado porque essas turbinas usam um controlador de carga que foi danificado e não possui reposição no Brasil. Essas turbinas foram importadas pelo ISA em 2008 do IMS-RERC–VSED (um consórcio de pesquisa e desenvolvimento de tecnologias alternativas de geração de energia do Vietnam), portanto do outro lado do mundo. O modelo parece ser uma alternativa bem interessante entre as já experimentadas, e se aproxima do ideal de geração de energia limpa e de autonomia para as comunidades. Mas, sem um fornecimento da tecnologia e dos itens de manutenção a nível regional, não é possível aprofundar os testes.

Outro projeto “Roda d’água” está em incubação e poderá ser testado nos próximos anos. A ideia é que este projeto seja testado nos locais onde a correnteza (velocidade) da água é mais elevada, como é o caso de Nazaré, Tunuí, Escola Pamáali e Ucuqui Cachoeira. Outras comunidades possuem a ideia de testar roda d´água no igarapé, através de construção de pequena barragem para formar desnível e assim poder aproveitar a energia mecânica.

O quadro baixo mostra a atual situação de motor de geração de energia na região do Içana. Esses dados foram obtidos dos Resultados do Levantamento Socioambiental, a partir do Relatório de trabalho para elaboração dos PGTA do Alto e Médio Rio Negro. O que chama atenção nesse quadro é o número de geradores familiares.

Motor de luz na região do Rio Içana

Região Funcionando Quebrado Sem motor de luz Nº de geradores familiares
Ayari 3 1 12 36
Alto Içana 0 0 13 46
Baixo Içana 6 2 5 62
Médio Içana 12 1 8 56
Total 21 4 38 200

Fonte: ISA, FOIRN, FUNAI/ maio de 2017.

Outras fontes de energia na região do Içana

Região Comunidades Comunidades onde há outras fontes de energia
(%)
Ayari 16 3 19%
Alto Içana 13 9 69%
Baixo Içana 13 6 46%
Médio Içana 21 7 33%
Total 63 25

Fonte: ISA, FOIRN, FUNAI/ maio de 2017.

Abastecimento de água

Para bombeamento de água estamos testando duas tecnologias socioambientais: 1) Sistema Carneiro Hidráulico e; 2) Sistema com Placa Solar.

O sistema Carneiro Hidráulico requer uma pequena represa de água e bombeia a água que passa por ele sem a necessidade de usar motor ou queimar qualquer tipo de combustível. No ano de 2013 foram feitos os primeiros testes na escola Pamáali, aproveitando a represa que abastecia o laboratório de piscicultura.  No ano de 2014 o sistema foi consolidado e passou a abastecer as casas residenciais na comunidade/escola e a Casa da Pimenta Pamáali.

No ano de 2017, este modelo foi instalado na comunidade de Santa Isabel no rio Ayari, sob interesse e iniciativa da própria comunidade em parceria com ISA. O ponto de bombeamento, a fonte/represa, fica numa distância de 350m de ponto de instalação de caixas da água. A base de caixas é suspensa a uma altura de 3m. A partir desde ponto a água é distribuída para a comunidade. Este sistema abastece em torno de 4.500 litros/dia. Esse modelo vem sendo considerado ideal para as comunidades, pois o custo de funcionamento e manutenção muito baixo, apenas a substituição de algumas peças simples, que podem ser encontradas no comércio local. Outras comunidades já manifestaram interesse para implantar esse modelo.

O sistema de bombeamento de água movido com placa solar está sendo testado na Rede de Casas da Pimenta Baniwa. A experiência está na fase inicial de implementação. E espera-se que este se apresente como uma das alternativas possíveis a ser implementado nas comunidades.

No caso específico, este modelo está dando certo na comunidade de Ambaúba, médio rio Içana. E foi instalado em parceria com os pastores não-indígena que atuam na comunidade.

Construção com Placas de Taipa

Esta tecnologia surgiu durante o processo de elaboração do projeto arquitetônico das Casas da Pimenta Baniwa e a primeira oficina de formação sobre a técnica aconteceu na Escola Pamáali no ano de 2009. Foi proposta pelo arquiteto Almir de Oliveira (EAMAC/Arquitetura da Terra) como uma solução construtiva que reúne aspectos importantes em uma obra como: beleza, estabilidade, uso sustentável dos materiais de construção tradicionais baniwa (madeira e argila). Os baixos custos de construção são uma grande vantagem desta tecnologia.

A técnica básica consiste em montar painéis de madeira pré-moldados que são reunidos no formato da casa. O trabalho de montar as paredes de uma casa da pimenta, depois que os painéis estão prontos, não dura mais que um dia. Depois dos painéis montados é feito o barreamento, como tradicionalmente os baniwa já conhecem, e o acabamento da parede leva apenas 01 centímetro de uma mistura composta por: 5partes de areia, 3 partes de barro e 1 parte de cimento.

A primeira casa foi construída em Tunuí cachoeira e inaugurada em 2013, e de lá para cá a técnica vem sendo aperfeiçoada, resultando em casas com boa estabilidade e acabamento, sem uso de tijolo e usando pouco cimento. Neste momento já existem 04 casas construídas neste padrão no Içana (Tunuí, Pamáali, Ucuqui e Canadá) e outra está em início de obra na comunidade de Nazaré. Vários grupos de construtores baniwa vem ganhando experiência com esta tecnologia de construção e, futuramente, poderão aplicar estes conhecimentos em outros tipos de obras como escolas, residências particulares, pólos-base, dando mais autonomia para tocar obras nas comunidades da região.

Enfim, são algumas das experiências que desenvolvemos no âmbito pesquisa de novas tecnologias socioambientais para o bem viver. Com experiências aos poucos vão sendo testado e com a experiência vamos aprendendo. Outras áreas também precisam avançar, como: tecnologias para coleta e tratamento de lixo (que já se acumula nas comunidades), tecnologias para transporte coletivo ou individual que dispense ou reduza o consumo de gasolina e tecnologias de comunicação e de processamento de produtos das comunidades para a comercialização (desidratadores de frutas, por exemplo). Há muito o que avançar!

O que depende é interesse, a decisão e boa vontade da comunidade, das nossas escolas e associações. Se as nossas comunidades, escolas e associações não tiverem planejamento de como melhorar em termos de empregos de tecnologias socioambientais poucas coisas vamos avançar. Não podemos esperar que alguém vai fazer por nós, tudo cabe a nós próprio e sempre parceria com os nossos parceiros de longa data.

[1] Licenciado em Física Intercultural/IFAM-CSGC. Professor na Escola Municipal Indígena Tiradentes e Sala de extensão de ensino médio Canadá, rio Ayari. Coordenador de Coordenadoria das Associações Baniwa e Koripako da bacia do Rio Içana – CABC

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LIXO NAS COMUNIDADES INDÍGENAS: DESAFIO DE DESTINAÇÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS DA BACIA DO IÇANA

“Lixo é veneno”

“O lixo é um inimigo”

Por Alfredo Feliciano Miguel Brazão

Diretor da OIBI 2017-2020

Como chegou lixo nas comunidades

Ante de todo quero registrar uma breve história sobre a chegada dos primeiros comerciantes que passavam trocar os produtos artesanais com produtos industrializados, que não existiam ante, os materiais que os nossos avós e pais usavam nas aldeias eram todos extraídos da natureza, que se decomponham com facilidade logo depois de uso, na verdade todos se transformavam em adubos orgânicos fertilizando o solo nos lugares de plantio das plantas frutíferas.

Os primeiros produtos industrializados como latas, plásticos, pilhas e outros surgiram na década do século XVIII quando os primeiros regatões entraram nas regiões. Naquele tempo quem tinham acessos a esses materiais somente os adultos que tinham técnica de produzir os artesanatos, farinha e outros produtos que eram comprados pelos regatões. Nesse tempo era bem diferente do tempo atual, pois todos os materiais duráveis que eram adquiridos pela população sempre foram bem reaproveitados por determinado tempo, assim era difícil às comunidades notarem os desperdícios de latas, garrafas, sacos plásticos nos quintais das casas.

Início da preocupação com lixo nas comunidades

A preocupação com destinação de resíduo sólido começou a surgir na região do Içana foi a partir da década de 1990 em diante, foi quando a população começaram a ter o acesso aos programas sociais do governo como em aposentadoria, pensão, bolsa família. Alguns que tinham estudo e que tiveram empregos como professores, agente Indígenas de Saúde que são ofertados pelo governo federal, estado e município.

Aumento de lixo nas comunidades

A partir do ano 2000, com aumento de professores contratados, apesar de muito positivo na educação escolar indígena, o magistério Indígena que formou os professores, mas também trouxe a soma visivelmente a questão do lixo em muitas comunidades.

Com salário ganho possibilitou adquirir os produtos industrializadas e suas embalagens são jogadas em qualquer lugar do ambiente quando perde vida útil de uso, seja nos rios, lagos, igarapés e nas praias e na mata.

Desconhecimento sobre lixo e as propostas de cuidado com lixo

O desconhecimento sobre cada tipo de produtos que produzem lixo e que podem causar doenças que comprometam a saúde dos seres humanos, aos animais, aos peixes e plantas e for fim o ambiente em se vive é principal causa de não ter cuidado com lixo nas comunidades. Conhecimento sobre contaminação através dos lixos ainda é pouco nas comunidades, principalmente os mais velhos das comunidades que não acreditam muito nisso. Por isso é fundamental a conscientização ou educação de cuidado com lixo nas comunidades.

Em uma das oficinas de estudantes da Licenciatura Políticas Educacionais e Desenvolvimento Sustentável da UFAM do Pólo Baniwa, fizeram trabalho de mostra como o acumulo de lixo acontece nas comunidades produzidas pela população e que chamou atenção para a necessidade de se preocuparem com isso, pois o acumulo de lixos podem ser uma das causas de doenças em suas comunidades.

Os estudantes apresentaram uma proposta aos Agentes Comunitários de Saúde Indígena e equipe multidisciplinar do DSEI, que este tema deveria ser prioridade em suas pautas para orientar a população das comunidades. Os mesmos recomendaram ensinar como deveriam tratar os lixos para evitar que cause doenças e comprometa na saúde, pois isso não existia nos planos de trabalho ou não estava acontecendo nas comunidades via DSEI e sua equipe de saúde. Até a própria equipe que anda nos rios e comunidades andam jogando seus lixos em qualquer lugar. Não orientam seus motoristas para guardarem vasilhame de óleo de mistura com gasolina que eles usam nos motores. É comum chegar ao porto onde tem pólo base vê cheio de frasco de óleo de plásticos, segundo pesquisadores-estudantes de médio Içana II.

Acordo e responsabilidade de estudantes

Durante a oficina os estudantes fizeram acordo entre si e se responsabilizaram para que cada um fizessem suas palestras sobre isso em suas comunidades de origem e que tomassem iniciativa de coletas de lixos com a participação dos membros da comunidade, incluindo também escolas da comunidade, para que os conhecimentos sobre lixo pudessem avançar.

A definição do lixo!

A conclusão da oficina é que o lixo é inimigo das pessoas, das comunidades, dos rios, das florestas e de todo ser vivo, por isso é fundamental se preocupar em ter planos em como se livrar dos lixos que são inimigos da saúde. É muito importante fazer coleta seletiva de lixo como de papeis, plásticos, vidros e latas. Depois deixar esses subprodutos com certa distância das casas e longe da fonte de igarapé, longe da plantação frutífera. O lixo pode ser queimadas e depois enterradas. Estas práticas devem ser ensinadas pelos professores e pelos agentes de saúde de cada comunidade.

Em relação aos produtos tóxicos como pilhas e baterias que são de alta periculosidade, é muito importante que as comunidades se responsabilizassem em ajunta-las no recipiente separado dos outros produtos para enviar de volta a cidade, uma vez que esses produtos contêm materiais pesadas e muita química perigosa segundo a resolução da CONAMA.

Legislação e situação de tratamento no Brasil

Segundo CONAMA, o Brasil é o único país da América do Sul que regulamenta a fabricação, venda e destinação final de pilhas e baterias. Com a entrada da Resolução 257, do Conselho Nacional do Meio Ambiente (Conama), que dispõe sobre estes resíduos, em vigor desde junho de 2001, o Ibama passou a fiscalizar esses limites. Os fabricantes e importadores são os responsáveis pelo recolhimento do material e sua destinação final, o que deve ser fiscalizado pelos órgãos públicos ambientais. A Resolução estabelece que as pilhas e baterias, após o seu esgotamento energético, devem ser entregues pelos usuários aos estabelecimentos que as comercializam ou à rede de assistência técnica autorizada pelas respectivas indústrias. (REIDLER, 2002).

No Brasil, as pilhas e baterias exauridas são descartadas no lixo comum por falta de conhecimento dos riscos que representam à saúde humana e ao ambiente, ou por carência de alternativa de descarte. Esses produtos contêm metais pesados, como mercúrio, chumbo, cádmio, níquel, entre outros, potencialmente perigosos à saúde. Esses metais, sendo bio-acumulativos depositam-se no organismo, afetando suas funções orgânicas. Outras substâncias tóxicas presentes nesses produtos podem atingir e contaminar os aquíferos freáticos, comprometendo a qualidade desses meios e seu uso posterior como fontes de abastecimento de água e de produção de alimentos.

ConclusãoJaime-Foirn (8)

Para mantermos saúde em nossas comunidades e do nosso território é muito importante que cuidemos da nossa saúde, vamos usar os produtos industrializados conscientes, jogar os que não têm mais utilidade no lugar certo, não pode descuidar jogando o lixo em qualquer lugar, pois já sabemos que é prejudicial à vida.

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PRESENÇA BANIWA NAS UNIVERSIDADES E SEUS DESAFIOS

Baniwa nas universidadesFrancineia B. Fontes

Doutoranda e Mestre em Antropologia Social na UFRJ/MN

Braulina Aurora Hipamaale

Mestranda em Antropologia Social na UNB

 

Contexto de nossos direitos e desafios como povo Baniwa

É de conhecimento geral que o processo de inclusão social da diversidade étnica‐racial da população no Brasil foi iniciado no âmbito das políticas indigenistas segundo uma concepção assimilacionista. Foi através da luta pelo acesso à universidade de forma diferenciada no contexto pós‐Constituição de 1988, quando os direitos originários dos povos indígenas são reconhecidos, que a perspectiva da inclusão com respeito às diferenças deu seus primeiros passos, assumindo, posteriormente, a forma de políticas de ação afirmativa nas universidades ou cotas raciais. Porém, cada instituição adotou de forma diferente o direito de acesso da diversidade à universidade. As categorias identitárias adotadas foram, em particular, as de “baixa renda”, “negro”, “pardos” e “indígenas”.  De acordo com SILVA et al (2006) as políticas públicas voltadas para as populações indígenas estiveram pautadas por séculos pela perspectiva integracionista e tutelar, que visa se conduzir dentro de parâmetros “evolucionistas”.

Nós Medzeniakonai, diferente de outros povos indígenas do Brasil, somos um dos povos que está caminhando na iniciação na formação de profissionais, pois as políticas públicas quase não chegam as nossas comunidades.

Nos 25 anos da nossa organização social enquanto povo Baniwa, temos alcançados, programas de formação significativos, de forma que hoje temos professores falantes na nossa língua dentro das salas de aula, ensinando nossas crianças e jovens.

Mas quando olhamos para outras formações, estamos começando a nos interessar, temos professores e vários técnicos formados, mas ainda muito a desejar se queremos serviços de qualidade na área de educação, saúde e sustentabilidade na nossa região.

Numa rápida busca por parentes nas universidades, a surpresa foi grande, pois há 10 anos, não tínhamos esses dados. Vejam na no mapa.   E para nossa alegria temos jovens de várias comunidades do rio Içana e rio Ayari, em formação, perguntei suas comunidades origens e seus clãs. Poucos tiveram disponibilidade para rápida resposta, a ideia do contato é fazer rede de profissionais baniwa em formação.

Acesso a universidade públicas é desafiador, na I – Conferência dos Baniwa, realizada em Tunuí Cachoeira em 2016, recordo-me de ter socializado informação sobre o vestibular da UnB, UFScar e Cursos.

 O acesso a formação intercultural, também foi um avanço, mas necessitamos de outros profissionais, que com a implantação do campus federal no município, possamos sonhar nessa possibilidade.

Temos poucos parentes na pós-graduação, e nós mulheres somos muito pouco ainda, algo que deve ser incentivada, na época das nossas mães poucas tiveram acesso à escola, temos professoras mulheres que chegaram a se formar, por que tiveram apoio de suas famílias, como as professoras Nazária, Madalena, Marcinda, Lindalva. E nos perguntamos por que outras não conseguiram, foi por falta de oportunidade? (Seria bom fazer histórico dos homens).

Atualmente, para se manter nas universidades é possível, tem bolsa permanência do governo federal, tem PROUNI para acessar universidades particulares, mas há necessidade de ter apoio das comunidades e familiares para se sentir como parte desse projeto de formação de profissionais. Atualmente neste governo estes meios de acesso estão ameaçadas.

Pode ser que tem mais parentes nas universidades, mas desconheço quem são, talvez, podem ser nossos irmãos, primos, netos ou bisnetos de vocês, mas quando se trata de identidade nem todos se assumem como Baniwa, que é um dos grandes desafios de se reconhecer como tal, por desconhecer história de luta.

O retorno de profissionais as comunidades indígenas, é outro desafio que necessita de um olhar diferenciado ou especifico, pois na maioria das vezes, o profissional em formação se torna um estranho para seu povo ou comunidade, a parti de momento que não mantém vinculo e que as adaptações são necessárias, para dar oportunidade de recebê-los de volta.

Nossa presença nas universidades

A presença indígena nas universidades é um assunto que rende muitas discussões e estudos. Suscita “esperanças” em várias áreas de conhecimentos. Avesso dessa política, a tradição intelectual indígena, de ver, de pensar, de organizar, de enxergar o mundo, de relacionar, perceber as mudanças de tempo e sociais, estão ancorados numa outra epistemologia que não é aquela que aprendemos nas escolas e nas universidades convencionais.

Da mesma forma como a Ciência, os sistemas de conhecimentos indígenas são tão complexos, e tem como fio condutores a cosmologia e a cosmopolítica, que são transmitidos de maneira organizados como teorias de conhecimento, no espaço e no tempo específico, às crianças e jovens indígenas direta e indiretamente pelos seus pais, mães, avos.

Apesar dessa carga de conhecimentos aprendidos no seio de sua sociedade, nós estudantes indígenas no universo da universidade, maiorias das vezes somos tratados como sujeitos de “tábula rasa”, que estão sempre no pólo de aprendizes, carentes de conceitos e sem epistemologia própria.

O ponto de partida é: existe a possiblidade de “transgressão” de alunos indígenas para construção de pensamento “nativo”, mesmo estando na estrutura de universidade? E, será possível aprender a filosofia indígena, utilizando os métodos científicos como instrumentos de sistematização dos conhecimentos indígenas?

Para começar, nós indígenas temos que estar ciente de que a escola e a universidade não são espaços próprios de produção de pensamento e práticas indígenas. Sendo assim, não formará operadores do pensamento indígena como os (pajés), que são especialidades vitais para as sociedades indígenas, que possui o papel de produzir, acumular, transmitir e disseminar conhecimentos e formar novos especialistas, como é o caso do Rio Negro.

Por outro lado, a universidade pode oportunizar a pensar o pensamento indígena, na medida em que os mecanismos e métodos científicos podem servir como instrumentos para compreender as cosmologias e produzir os conceitos propriamente “nativos” possibilitando um diálogo simétrico entre os modelos de conhecimentos. Mas, para isso acontecer é necessário, nós (indígenas), ter bastante clareza e consciência de que o simples ingresso na universidade, não assegura colocar nossa epistemologia, nossas ideias em pauta na sala de aula e nos Programas de Pós-Graduação.

A natureza da epistemologia indígena

Existe interesse muito grande de especialistas indígenas (pajés) traduzirem os conhecimentos através de escrita, com esforço enorme de traduzir as cosmologias ou ontologias. A Coleção de narradores do Rio Negro e a Queda do Céu, são exemplos de obras que expõe o sistema de conhecimento indígena via escrita.

O desejo dos autores parece ser destacar o pensamento e sua complexidade, isto é, as bases filosóficos e ontológicos dos conhecimentos indígenas. O fio condutor é considerar que o cosmo é habitado por humanos, onde estão conectados num sistema de relação de interdependência. Cada categoria de humanos, tem seu tipo específico de conhecimento, de perceber o mundo, de intervir entre si, e atuar indistintamente.

As relações entre os humanos e os humanos de diferentes domínios do cosmo se fundamenta no intercâmbio recíproco de vitalidade. Um dos ingredientes dessa relação é o conflito. Se o intercâmbio for violado, pode provocar vingança por uma das partes, causando mortes. Para isso, os especialistas (pajés) aparecem como os principais intermediadores de comunicação entre diferentes humanos de diferentes espaços e domínios/ambientes do cosmo. A construção de uma relação cosmo política é uma necessidade imprescindível do ponto de vista desses autores.

Na mesma linha de interesse, muitos estudantes indígenas pesquisadores, já desenvolveram estudos sobre suas cosmologias, tomando seus pais, ou membros do seu grupo social como informantes. Mas percebe-se que a produção de dissertações ou teses, muitos deles estão balizadas pelos conceitos de sociedade, cultura, religião, identidade, magia, sistema de parentescos, que são noções compartilhadas com a academia, a exemplo de pesquisadores não nativos.

Reinventando os métodos científicos, é possível calcar das análises mitologias aos conceitos e categorias indígenas produzindo pensamento com linguagem capaz de abrir um diálogo simétrico com a ciência. Assim a Universidade pode oportuniza pensar o pensamento.

Mas, para universidade, isso implica repensar o modelo e suas estruturas, isto é, não somente pensar no sentido de “facilitar” a entrada de indígenas, mas de criar mecanismos que estimule melhor “explorar” o pensamento indígena. Tal esforço significa formar jovens estudantes indígenas capazes de refletir seus pensamentos, sobretudo os programas de Pós-graduação.

Os especialistas indígenas são eternos pensadores, sentados individualmente ou coletiva, analisam as alterações sociais, conflitos, intrigas, discussões desintegrações dos grupos, saídas das famílias do lugar, mudanças nos sistemas de casamentos. Analisam as influências externas como músicas, educação, empregos, influência de bebida alcoólicas e seus efeitos. Desintegração de sistema de tratamentos pessoais e nominais. Apontam o desinteresse dos jovens indígenas em aprender seus próprios conhecimentos. Analisam as mudanças de tempo, do desiquilíbrio de bio-indicadores, do excesso de chuva, da cheia, excesso da seca, escassez de peixes e da caça. Excesso de raios e trovoadas, dos surtos de doenças, das picadas de cobras, dos acidentes fatais.  Preocupados, entram em ação colocando em operação os seus conhecimentos de benzimentos para mitigar os problemas. Enfim, hoje as universidades estão dispostas a discutir e nos ouvir mais, e assim pensar coletivamente o que nós queremos.

Consideração

O resultado da interação entre pesquisadores e pesquisados, num exercício de reflexividade mostrou que a natureza dos conhecimentos, pertencem aos domínios distintos. Isto significa que para traduzir os conhecimentos indígenas é necessário buscar outros termos, e descolonizar o pensamento para melhor mergulhar nos nossos conhecimentos, distanciando dos conceitos euro-ameríndios.

Enfim, temos que assumir que nós, estudantes indígenas, o que estamos fazendo dentro das universidades não é mesmo para nos formar especialistas ao nosso modelo tradicional. O que estamos fazendo é outra coisa, mas não podemos cair nas armadilhas de traduzir nossos conhecimentos de forma simplório e ao reducionismo cientifico. Creio que traduzir as palavras, seja diferente de traduzir o pensamento.

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AS DIFICULDADES DA SOCIEDADE DOMINANTE E A LUTA DOS POVOS INDÍGENAS

Baseado na carta do 1º Presidente da Organização Indígena da Bacia do Içana entre 2992-1995, enviado para Jornal Kaaly para 2ª edição em 2018, segue editado sobre a dificuldade da sociedade envolvente em lhe dar com povos indígenas e suas lutas!OIBI final da assembléia na comunidade Tucumã

O Governo e Estado que gerem as suas histórias, os presentes e os futuros de sua nação e parte da sociedade dominante no Brasil continua não aceitando as nossas conquistas como povos indígenas e muitos políticos e exploradores continuam, com suas artimanhas para não respeitarem o nosso povo, mas de explorar nossos conhecimentos e riquezas das terras, lagos e rios. Contra qual precisamos ser firmes junto à defesa da nossa identidade, e que fique claro: a nossa luta é pelo respeito como ser humano e como povo, nada fora do que já é direito, pois temos nossos direitos conquistados como: terra, saúde, educação, e apoio a projetos de economia e desenvolvimento sustentável. Hoje estamos organizados de acordo com artigo 232 da Constituição Federal de 1988. Apesar disso o país, Governo e Estado brasileiro, políticos e sua sociedade se fazem de cego para não reconhecerem a constitucionalidade dos nossos direitos. Isto nos leva a crer que precisam conhecer para reconhecer, respeitar nossas organizações e nossos representantes, nossas organizações formais existentes são para promover nosso bem viver.

Os povos Baniwa e Koripako na cabeça do cachorro, no Alto Rio Negro, assim como demais povos, na sua história, ante da chagada de invasores e exploradores, estávamos nas nossas terras, em cada espaço a nos entregue pelo criador, por meio de nossos antepassados, respeitando limites de terra e Território de cada povo vizinho ou daqueles com quais nossos povos tiveram relação, transitando livremente com devidas licenças e autorização na nossa terra, com outros e entre os demais povos. Com avanços e chegada cada vez mais de exploradores, nosso povo, teve que aprender, para entender o que estava por vir e como deveríamos nos preparar e se organizar para defender nosso espaço, nossa Terra e Território e o nosso povo, por meios próprios de aprendizado tradicionais, escravidão que nos atravessou, e no início do século passado para cá, enfrentando cadeiras de escolas, para saber ler e escrever.

A pesar de toda história triste que o Estado Nacional Brasileiro promoveu contra os povos indígenas, o fato é que sempre contribuímos com o país e continuamos em defesa coletiva do nosso povo e da nossa terra-território milenar. Muitas lutas de resistência e estratégias. Nós conseguimos um capítulo específico de direito, artigos 231 e 232, na CF de 1988. Estes direitos nos garante amparo e reconhecem as nossas organizações próprias, nossas terras e cultura, costumes e tradição. Por isso as nossas organizações formais são legítimos, com processos próprios de constituir seus representantes legais eleitos em assembleias em nossas comunidades.

Precisamos levar mais conhecimentos para nosso próprio respeito na sociedade, pois isso é fundamental em longo prazo produzir respeito. Isto é para que nos respeitem, assim como respeitamos as sociedades dominantes, seus representantes, seus governos, seus modos de se organizarem para trabalhar junto com seus povos, suas nações em suas cidades, estados nacionais ou países.

Vejam que o mundo e sua sociedade buscam alternativas de saídas para crises de modo geral, e nós povos indígenas, podemos e quem sabe, sabemos, conhecemos e podemos ser a saída para os problemas que o mundo e sociedade passam nos dias de hoje. Por isso é fundamental continuarmos e nos firmarmos naquilo que temos, acreditando naquilo que é de melhor para nosso povo e outros povos, seres humanos, demonstrando que o mundo precisa agora do Bem Viver e Viver Bem que pode resumir práticas sustentáveis milenares dos povos indígenas no Brasil e no mundo.

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REFLEXÃO BANIWA SOBRE QUESTÃO INDÍGENA NO CONTEXTO DO GOVERNO BOLSONARO

Este texto escrito por mim  André Baniwa que foi lido na assembleia extraordinária da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro que aconteceu no período de 14 a 16 de março de 2016 na comunidade de Ilha de Duraka, próximo ao porto de Camanaus no município de São Gabriel da Cachoeira – Amazonas.

Visa refletir sobre a questão central indígena que é a terra, que criador deixou como principal palco para todos os homens do planeta-terra, pois sem ela não se tem lugar para pisar, nenhum homem e nenhum ser vivem no ar ou no vazio. Imaginemos nós que vivemos há milênios nesta terra antes que fosse hoje chamada Brasil.

Outros, os europeus, aqui chegaram dizendo: vocês são animais selvagens, não tem alma, desconhecidos por Deus, sem roupa, e do nada começaram dar nome ao lugar, mais nome, mais outro nome que não tinha nada a ver com nome que se conhecia há milênios pelos povos indígenas, hoje pelo direito reconhecidos como povos nativos ou originários.

Culturalmente essa é a forma de chegar a terra ou na casa de alguém? Que tipo de gente pensa e age assim? Você já pensou no significado dessa forma dos estrangeiros chegar às nossa terra e que continua assim dessa mesma forma depois de mais de 518 anos?

Os europeus que aqui chegaram ao Brasil eram aquelas pessoas que procuravam riquezas para levarem as suas terras. Esta é a razão deles de terem essa visão e ação de ver tudo e aproveitar para si o que é dos outros. Imagino que fizeram primeiro diagnóstico concluindo que os índios não sabiam de nada da cultura mercantilista ocidental e se aproveitaram disso. E tomaram terras dos índios e mais terras dos índios. Mataram índios e mais índios mataram para dominar as terras dos outros, dos índios para se enriquecerem, mais e mais. Quando conseguiram, implantaram projeto definitivo: criaram um ESTADO NACIONAL para dominar de vez e governar para eles mesmos, não para os índios, não para os pobres! Eles gritaram um para outro: vamos transformar índios em escravos e vamos buscar mais outros escravos pretos e vamos construir toda riqueza aqui para nós, os comemoravam, e assim fizeram até hoje, se quer saber!

Neste período de colônia e Estado Nacional do Brasil, o que aconteceu com povos indígenas? Eles aumentaram de população? Deveria, não é, é lógico que sim! Mas ao contrário os povos indígenas diminuíram de milhões para centenas somente. De autônomos para escravizados e tutelados. De cheio de terras para sem terras. De cheio de ensinamentos para esvaziamento de seus conhecimentos e muito forte branqueamento. De ricos culturalmente para cultura totalmente desmatada. De organizados cultural e milenarmente para derrotados, desorganizados. E etc.

Apesar de tudo, se não fosse o fruto da luta de muitos líderes indígenas que doaram as suas vidas, não existiríamos mais hoje, diminuídos, mas existimos, não somos mais milhões como antes, mas voltamos a crescer novamente que corresponde com os direitos conquistados na última promulgação da Constituição da República Federativa do Brasil, 5 de outubro de 1988.

O destino que nos esperava ditado pelo Estado Brasileiro era o fim dos povos indígenas neste Brasil controverso, a data prevista era para que nenhum indígena existisse mais neste novo milênio, neste século XXI. Você consegue imaginar que tipo de gente, que tipo de ser humano veio colonizar e nacionalizar esta terra continental dos povos indígenas? Você acha que eles vieram para ajudar? Que eles vieram para amar gentes nativas desta terra? Gente amiga, parenta ou parceiro consegue pensar assim do seu próximo? Que tipo de gente ou ser humano consegue pensar assim? Qual é a função exata de um Estado Nacional com sua nação?

Depois de direitos fundamentais conquistados na Constituição Federal de 1988, novamente estamos vivendo história onde os dirigentes do Estado Nacional Brasileiro quer destruir com todos os direitos indígenas sempre com os mesmos argumentos desde lá de tal de descobrimento do Brasil. Eles não souberam gerir ou manejar as terras que tomaram dos povos indígenas. Para eles quanto mais desmatar é melhor, é mais riqueza, mais significado de trabalho para eles. Quem não desmatar como eles, eles acham que é preguiçoso, que tem muita terra improdutiva, que todo isso é impedimento ou barreira para desenvolvimento e tal de progresso que tantos defendem. Parece que o objetivo ou função social principal do Estado Brasileiro é ficar rico poderoso mais que os outros, ou seja, não se foca no bem-estar da sua nação, não tem nada de buscar bem viver do seu povo.

O governo atual é dos contra aos direitos indígenas, durante sua vida toda vem pensando e falando contra; durante a campanha toda vem declarando que é contra os povos indígenas; e iniciou seu governo esquartejando a gestão de política indigenista do Estado Brasileiro, é uma bagunça para inviabilizar os direitos indígenas; quer se livrar da questão indígena propondo municipalizar saúde indígena que não vai funcionar; quer liberar as terras indígenas para arrendamento aos empresários de agricultura; quer liberar as terras indígenas para exploração de riquezas minerais sem consultar indígenas ou sem que a consulta direcione qualquer projetos. Todos e todas sabem que isso é um agir do presidente da república, que é sempre inconstitucional!

Desta forma só dá para concluir que ele é inimigo número 1 dos povos indígenas, ele não é governo do Brasil, ele é inimigo da nação Brasileira como todo. Um governo que visa bem estar da sua nação não agiria como está fazendo que seja desconstruir “as politicamente corretas” onde estamos inseridos, ele quer políticas incorretas ou inconstitucionais; o lema da sua campanha e de seu governo é falso-verdadeiro e verdadeiro-falso que soa bem para alguns, mas é uma pegadinha de destruição na nação brasileira.

O que fazer? Como fazer? Qual estratégia? Pensem e tomem suas decisões para garantir as futuras gerações como fizeram os nossos antepassados que garantiram o nosso presente de hoje. A coisa está na sua mão!B612_20160121_204934

REPÚDIO BANIWA A POLÍTICA DE ATAQUE RACISTA DO MEC SOBRE ESTÍMULO DA PRESENÇA INDÍGENA NAS UNIVERSIDADES

(1)

Nós, o povo Baniwa, da família linguística Aruak, 6 mil pessoas, 85 comunidades e sítios indígenas Brasileiros, por meio de legítimos representantes lideranças, e seus parceiros, vimos a público REPUDIAR A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC), que, por meio da PORTARIA Nº 545, DE 16 DE JUNHO DE 2020, revoga a portaria Normativa MEC nº 13, de 11 de maio de 2016, que dispõe sobre a indução de Ações Afirmativas na Pós-Graduação, e dá outras providências.

Entendemos que esta é uma concretização do movimento contra direitos indígenas, processo de desconstrução de políticas indigenista do governo federal conquistadas pelos povos indígenas por meio de muitas lutas. Afirmamos e reafirmamos que dessa forma não nos resta entender que é uma medida desrespeitoso, preconceituoso, discriminador por parte do gestor de política do Estado Brasileiro, iniciando um processo de dissimulação que caminha para violação de nossos direitos específicos, combatendo-nos como se não fossemos cidadãos brasileiros, como se o Estado Nacional tentasse nos extirpar das universidades brasileiras.

Exigimos que o MPF e as autoridades defensoras dos direitos constitucionais tomem as devidas providências a respeito, já que a política nacional de cotas está amparada em um arcabouço jurídico já conquistado com luta, e a sua revogação fere o princípio constitucional do não-retrocesso social. Também demandamos que a sociedade e as universidades também se manifestem sobre essa revogação de um direito de acesso ao ensino superior dos povos indígenas do Brasil e das demais classes sociais menos favorecidas.

Baniwas e parceiros, 18 de Maio de 2020

 

André Fernando Baniwa – Diretor Vice Presidente da OIBI

Alfredo Feliciano – Diretor Tesoureiro da OIBI

Bonifácio José – Presidente da ACEP

Isaias Pereira Fontes – Diretor da FOIRN

Braulina Aurora – Mestrando da UNB

Francineia Fontes – Doutorando UFRJ

Raimundo Benjamim – SETCOM/FOIRN

João Jackson Bezerra Vianna (UFES)

Elie Ghanem (Ceunir – USP)

Antônio Fernandes Góes Neto (Ceunir – USP)

Diana Pellegrini (Ceunir – USP)

Arlindo Baré (FEEC – Unicamp)

Stella Oswaldo Cruz Penido (Fiocruz documentarista)

Daniel Benjamim – Professor da Escola Maadzero

Dário Casimiro – Mestrando na UFAM

Abílio Quinça – Estudante UEA

Tatiana Baniwa – enfermeira no Içana

Marivelton Barroso – Presidente da FOIRN

Julia Bernstein (mestre pela UFMG e parceira da FOIRN)

Augusto Garcia – Mestre em Linguística, professor Baniwa

Adeilson Lopes – Ecólogo

Paulo Abati Professor e médico infectologista UNICAMP

Natalia Pimenta (ISA)

Juliana Radler (ISA)

Carla Dias (ISA)

Sully Sampaio, Antropólogo – Parceiro colaborador no território Baniwa

Ana Lúcia Pontes, Medica Sanitarista- Parceira colaboradora no território Baniwa

Luiza Garnelo Médica Sanitarista – Parceira colaboradora no território Baniwa

Hernane Santos Júnior, Enfermeiro – Parceiro colaborador no território Baniwa

REPÚDIO BANIWA A POLÍTICA DE ATAQUE RACISTA DO MEC SOBRE ESTÍMULO DA PRESENÇA INDÍGENA NAS UNIVERSIDADES

Nós, o povo Baniwa, da família linguística Aruak, 6 mil pessoas, 85 comunidades e sítios indígenas Brasileiros, por meio de legítimos representantes lideranças, e seus parceiros, vimos a público REPUDIAR A POLÍTICA DO MINISTÉRIO DA EDUCAÇÃO (MEC), que, por meio da PORTARIA Nº 545, DE 16 DE JUNHO DE 2020, revoga a portaria Normativa MEC nº 13, de 11 de maio de 2016, que dispõe sobre a indução de Ações Afirmativas na Pós-Graduação, e dá outras providências.

Entendemos que esta é uma concretização do movimento contra direitos indígenas, processo de desconstrução de políticas indigenista do governo federal conquistadas pelos povos indígenas por meio de muitas lutas. Afirmamos e reafirmamos que dessa forma não nos resta entender que é uma medida desrespeitoso, preconceituoso, discriminador por parte do gestor de política do Estado Brasileiro, iniciando um processo de dissimulação que caminha para violação de nossos direitos específicos, combatendo-nos como se não fossemos cidadãos brasileiros, como se o Estado Nacional tentasse nos extirpar das universidades brasileiras.

Exigimos que o MPF e as autoridades defensoras dos direitos constitucionais tomem as devidas providências a respeito, já que a política nacional de cotas está amparada em um arcabouço jurídico já conquistado com luta, e a sua revogação fere o princípio constitucional do não-retrocesso social. Também demandamos que a sociedade e as universidades também se manifestem sobre essa revogação de um direito de acesso ao ensino superior dos povos indígenas do Brasil e das demais classes sociais menos favorecidas.

 

Baniwas e parceiros, 18 de Maio de 2020

 

André Fernando Baniwa – Diretor Vice Presidente da OIBI

Alfredo Feliciano – Diretor Tesoureiro da OIBI

Bonifácio José – Presidente da ACEP

Isaias Pereira Fontes – Diretor da FOIRN

Braulina Aurora – Mestrando da UNB

Francineia Fontes – Doutorando UFRJ

Raimundo Benjami – SETCOM/FOIRN

João Jackson Bezerra Vianna (UFES)

Elie Ghanem (Ceunir – USP)

Antônio Fernandes Góes Neto (Ceunir – USP)

Diana Pellegrini (Ceunir – USP)

Arlindo Baré (FEEC – Unicamp)

Stella Oswaldo Cruz Penido (Fiocruz documentarista)

Daniel Benjamim – Professor da Escola Maadzero

Dário Casimiro – Mestrando na UFAM

Abílio Quinça – Estudante UEA

Tatiana Baniwa – enfermeira no Içana

Marivelton Barroso – Presidente da FOIRN

Julia Bernstein (mestre pela UFMG e parceira da FOIRN)

Augusto Garcia – Mestre em Linguística, professor Baniwa

Adeilson Lopes – Ecólogo

Paulo Abati Professor e médico infectologista UNICAMP

Natalia Pimenta (ISA)

Juliana Radler (ISA)

Carla Dias (ISA)

Sully Sampaio, Antropólogo – Parceiro colaborador no território Baniwa

Ana Lúcia Pontes, Medica Sanitarista- Parceira colaboradora no território Baniwa

Luiza Garnelo Médica Sanitarista – Parceira colaboradora no território Baniwa

Hernane Santos Júnior, Enfermeiro – Parceiro colaborador no território Baniwa

Nota de Repúdio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) — Terra e Cultura

Nota de Repúdio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) São Gabriel da Cachoeira (AM), 18 de junho de 2020 A Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN), que representa os 23 povos indígenas dos municípios de Barcelos, Santa Isabel do Rio Negro e São Gabriel da Cachoeira (AM), vem a público […]

via Nota de Repúdio da Federação das Organizações Indígenas do Rio Negro (FOIRN) — Terra e Cultura